terça-feira, 30 de setembro de 2008

Empoderamento: a chave para uma sociedade inclusiva.

Ao longo da história da humanidade podemos acompanhar as diferentes formas como as pessoas com deficiência foram vistas e foram tratadas. Quatro fases marcam esta trajetória: a primeira da exclusão, onde eram encaradas como diabólicas e malignas, como seres inacabados e criaturas sem nenhum poder sobre si mesmas. A segunda da segregação, foram tiradas do convívio social eram segregadas em instituições que as viam também como doentes. A terceira da integração, que é bastante recente, onde então foi lhes dado algum direito, mas ainda “alguém” dizia como e onde. A última fase, é que estamos vivenciando atualmente, que é a da inclusão, onde as pessoas com deficiência passam a ter direitos reais e participação ativa na sociedade, sendo respeitado suas limitações e valorizado suas potencialidades.
A Inclusão tornou-se a palavra de ordem em todos os discursos e até em ações, nunca a pessoa com deficiência esteve com tantos espaços disponíveis para se manifestar e participar. Isto é resultado de muitos documentos, declarações, leis, mas questiono se isto realmente garante a estas pessoas seus direitos mais nobres.
Robert Martin em seu discurso declara exatamente a trajetória deste processo, referindo-se fortemente as dificuldades enfrentadas como uma pessoa com deficiência relata: a falta de respeito, a não valorização de suas opiniões e idéias, a não oportunidade de ser uma pessoa real, a negação de oportunidade, o não poder gerenciar sua vida. Este foi o modo como a sociedade tratou estas pessoas ao longo da história e pelo seu depoimento podemos confirmar que estas pessoas têm sim a possibilidade de construírem suas vidas, contando com o auxílio de suas famílias e dos profissionais que a elas prestam serviços.
Robert reforça o que na realidade algumas pessoas comprometidas com a causa da pessoa com deficiência defendem. Ele afirma que a pessoa, independente de sua deficiência, é alguém que pode decidir sobre sua vida e desta forma empoderar-se de si. Este empoderamento resgata na pessoa com deficiência sua confiança, sua capacidade de acreditar que pode, sua auto-estima, seu valor pessoal, sua capacidade de expressão, seu acesso a oportunidades e a sua plena participação na sociedade, exercendo seus direitos como cidadão e pessoa.

Empoderamento é a capacidade de gerenciar seu caminho, tomando decisões, fazendo escolhas, tendo poder sobre sua vida. Segundo Robert “é ter uma voz para dizer o que desejo e saber que tenho escolhas em minha vida”.
Percebemos que sempre foram negadas as pessoas com deficiência a possibilidade de pensar e de escolher seu destino, sempre foi vista como alguém que precisava do outro para pensar e fazer por si. Tornou-se dependente e não acredita na sua capacidade. Hoje muitas têm dificuldade de pensar e acreditar que são capazes.
Alguns corajosos heróis como Robert Martin, foram ultrapassando esta barreira e buscando espaços na sociedade, que começou a perceber que estas pessoas também podem ter poder sobre suas vidas, podem fazer escolhas, podem aprender, podem ser úteis e produtivas, mas precisam que muitas barreiras sejam ultrapassadas para alcançarem este destino.
Nós, os profissionais, temos a responsabilidade de acompanhar esta mudança e oferecer novas possibilidades as pessoas com deficiência. Na minha experiência tenho muitas passagens maravilhosas sobre conquistas realizadas e acredito que a grande chave para termos de fato uma Sociedade Inclusiva esteja no empoderamento, em devolvermos o poder de decidir e escolher as pessoas com deficiência, pois somente através deste exercício de autonomia e independência as pessoas conseguiram construir sua história pessoal e desenvolver suas potencialidades.
Nossas instituições precisam exercitar este processo, é como pais com seus filhos pequeninos que ao aprenderem a caminhar precisam cair e aprender a levantar, muitas vezes agimos assim, evitamos que caminhem para evitar as quedas. As quedas fazem parte da trajetória e constroem os caminhos. É através das múltiplas experiências e escolhas que somos quem somos, e as pessoas com deficiência precisam fazer as suas escolhas para tornarem –se alguém real.

O limite do ser humano cabe a ele descobrir,
a nós cabe a responsabilidade
de oferecer oportunidades.
Jaqueline Reis

Gravataí, 20 de agosto de 2008.